Dia Internacional das Mulheres
O Dia Internacional das Mulheres é amplamente celebrado no dia 8 de março e serve de mote e lembrete para uma questão (ainda) controversa em 2024: a igualdade de género. Apesar das grandes conquistas neste campo, a nível laboral, social e legal, continua a ser muito relevante esmiuçar esta questão. De facto, sabemos que as mulheres continuam a ganhar menos do que os homens por trabalhos semelhantes (e a ter menos emprego) e estão menos representadas em lugares de poder e responsabilidade nas esferas públicas e privadas, a nível global. São dados irrefutáveis e que nos fazem questionar o porquê deste “teto de vidro”: barreiras subtis, por exemplo, na forma de uma maior dificuldade de conciliação familiar e profissional barram efetivamente a participação no feminino nas grandes decisões da sociedade.
Prémio Nobel de Literatura no feminino
Aplicando a mesma reflexão à literatura ou ao meio literário, vemos o mesmo padrão. O Prémio Nobel da Literatura, por exemplo, em 119 laureados, teve apenas 17 mulheres galardoadas. Multiplicam-se as iniciativas para dar mais visibilidade às mulheres escritoras, como o recente Clube das Mulheres Escritoras, constituído por escritoras de ficção portuguesas que se interrogavam: «Porque é que as mulheres vendem menos do que os homens?»
Por curiosidade, no nosso próprio site de venda de livros usados constatamos que, perto do dia 8 de março de 2024, menos de um terço dos livros que estão à venda foram escritos por mulheres, sem qualquer tipo de seleção desse tipo, sendo o único critério os livros que estão disponíveis no mercado.
10 Escritoras Que (ainda) Pode Desconhecer
Assim sendo, decidimos dar o devido destaque a 10 mulheres escritoras cuja obra ainda vai a tempo de conhecer.
Patricia Highsmith (1921-1945) é uma das maiores autoras de suspense de todos os tempos. É especialmente conhecida pelos livros de thriller psicológico, nos quais a série de livros com Tom Ripley como personagem principal já foi, inclusive, adaptada ao cinema. O macabro e o questionar da identidade e moralidade dos seus personagens são uma das suas imagens de marca mais poderosas.
Maria Judite de Carvalho (1921-1998) foi uma escritora portuguesa galardoada, injustamente esquecida pelo público, não obstante um esforço recente de reedição das suas obras, graças ao esforço da sua família. É conhecida sobretudo pelos contos, de onde o conto Tanta Gente, Mariana (que também dá nome à coletânea) expressa bem aquilo que sempre caracterizou a sua escrita: uma solidão e tristeza absolutas que mais do que qualquer existencialista, qualquer português (passe a generalização) se pode identificar.
Toni Morrison (1931-2019) foi a primeira mulher negra laureada com o Prémio Nobel da Literatura em 1993, um dos vários prémios literários que recebeu. Esta escritora, professora universitária e editora, para além de conquistar, por mérito próprio, um lugar na literatura mundial, contribuiu para dar visibilidade a outros escritores afro-americanos enquanto editora. Toni Morrison escreveu romances, livros para crianças e de não-ficção e apesar de não considerar as suas obras como feministas, estas destacam frequentemente mulheres negras com personalidades fortes e vidas marcantes.
Fernanda Botelho (1926-2007) foi uma escritora, tradutora e jornalista portuguesa cuja obra tem caído no esquecimento muito por culpa da não reedição das suas obras. "Nem na morte vou perder o meu sentido de humor nem a minha ironia", declarou em 2003, numa entrevista concedida ao jornal Público. A ironia e o sarcasmo guiavam a sua escrita, assim como as relações de amizade com outras escritoras e escritores do seu tempo, nomeadamente Maria Judite de Carvalho.
Nelida Piñon (1937-2022) foi a primeira mulher a presidir à Academia Brasileira das Letras. Colecionou vários prémios, entre os quais o Prémio Príncipe das Astúrias das Letras. Nos seus romances, faz frequentemente reflexões sobre a Galiza (de onde os pais eram originários), Espanha e o Brasil.
Anita Desai (1937) nasceu e estudou na Índia. Entre os trabalhos publicados contam-se vários romances, livros infantis e contos. Clear Light of Day e In Custody foram nomeados para o Booker Prize. É membro da Royal Society of Literature e da Academia Americana de Artes e Letras, bem como do Girton College de Cambridge, Lecciona no Writing Program do MIT e divide o seu tempo entre a Índia, Massachusetts e Cambridge.
Rosa Lobato de Faria (1932-2010) dividiu-se em vários ofícios, dos quais é mais conhecida, talvez do público português, como atriz e letrista de canções para o Festival da Canção. Mas a partir dos anos 1990 até à sua morte, produziu uma considerável obra literária entre romances, literatura infantojuvenil e poesia.
Sofi Oksanen (1977) é uma escritora e dramaturga finlandesa. O seu trabalho já foi traduzido para mais de 40 línguas e vendeu mais de dois milhões de cópias e tem sido comparado ao de Margaret Atwood. Escreve muitas vezes sobre a condição feminina em temas fracturantes e incómodos do mundo atual.
Seomara da Veiga Ferreira (1942) é licenciada em Ciências Históricas e tem uma obra literária ancorada sobretudo nos romances históricos, obra pela qual se distingue e evoca a memória histórica de Agripina, D. João II, Inês de Castro, Leonor Teles ou o Padre António Vieira.
Joumana Haddad (1970) é uma escritora, poeta, jornalista e tradutora libanesa que integra frequentemente a lista das mulheres árabes mais poderosas. Criou a primeira revista erótica e cultural em língua árabe, Jasad (Corpo). É uma ativista política pela igualdade de género, liberdade de expressão e secularismo.
Ana Pereira
(Este texto, com algumas alterações, foi publicado originalmente no jornal O Ilhavense, de 1 de março de 2024)
Créditos da imagem: SHOOTING STARS, 2023, Wolfe Von Lenkiewicz